segunda-feira, 20 de maio de 2013

Luciano Cilindro de Souza
Um incendiario a solta!

Saiu no jornal, saiu no jornal!
Um louco, uma tocha, fugiu!
Abriu de Pandora a caixa do mal
Disse ou não disse, acendeu um pavio.

Que, nele, já era curto; nos outros oculto
falou pros seus pais e pro seu país
Que não era virgem, tampouco era puto
No gueto do armário não era feliz.

Quem pensa que é, acendendo o fosforo
Faiscando o isqueiro da autenticidade?
Vai apagar o incendio de Roma ao Bosforo?
O bombeiro, em seus braços, fugiu da cidade!

Levou surra de toco, facada na escola
Insulto do sabio, do louco, da Chica
Agora rebola, sorri, a si comemora
So leva porrada é com couro de pica.

Ele grita e canta, aos quatro ventos risíveis
"Caso não faço, se me condena o hipócrita.
Se sou faísca, eles são combustiveis!
Queimem, cadáveres, a beira da porta!"

De: Luciano Cilindro de Souza

Todo anjinho tem seu diabinho.

Todo anjo tem seu diabinho

Tem um diabinho em mim
Que adora travessuras
Ele esta bem juntinho aqui
Instingando loucuras.

Ele faz coisas com meus dedos
Ele mede coisas com meus olhos
Ele chuta, zomba de meus brinquedos
E bate chifres nos ofertorios.

Em vez de um tenebroso tridente
Ele carrega uma bolsinha de puta
Me leva pra sargeta perfido e contente
Vende minhas pregas à labia mais astuta.

Ele gosta de meus gemidos
Nao admite que eu fique só
Me da um cio dos pervertidos
Me faz toda gravata folgar o nó.

Mas que diabo, que fogo uma hora dessa!
Querer estar enroscaso em pernas e em pelos
Enfiado, até o gargalo, em quem nao tem pressa
De cavalgar no estribo da anca, seguro nos cabelos!

Um momento frivolo. Posso?

Luciano Cilindro de Souza

Solidão e alavancas.

SOLIDAO E ALAVANCAS.

Alguem que quer ser uma especie de deus e compreender radicallmente a realidade, logo cairá em sucessivas armadilhas. Não entende que o entendimento é autoconstrutivo e aprisionante.

Uma toupeira vai escavando a crostra da terra com seu focinho e acaba se convencendo de que suas tunelizações sao a propria tecitura da realidade, da qual se apoderou. Mais tola é a humanidade, pois, ao descobrir que outra alavanca (que nao o pênis ou o focinho) podia aumentar sua apropriação da verdade, enforcou-se nas cordas com a ajuda de polias cada vez mais intrincadas.

Corre-se um terrivel boato: estamos às portas da extinção. Mas essa autofagia ja vinha precedida, no foro intimo, pela insidiosa solidão da toupeira, do ser castrado, que empunha a pinça de seu estojo com miriades de outras ferramentas, desde a tachinha na garagem à grua mais alta.

Quem constrói templos de concreto sobre o que fora uma árvore indefesa, ou consegue uma janela exclusiva com a visão da enseada, nao pode reclamar da solidão. A solidão é o metabólito toxico gerado nos nossos próprios intestinos cheios de autossuficiência.

Não ser feito só de cerebro e esqueleto nos lembra o figado, ou seja, nossas barreiras e defesas não perdurarão pela eternidade desejada. Um dia ruirão, e o urro da sequoia antiga, tombada sob machadadas, se fará ouvir nas almas adormecidas na peçonhenta solidão, que era a propria neblina de cigarro, do vapor do vinho e do incenso mistico, impotente. Nada, nem as unhas ou a espada, nos livrará desse encontro com a verdade ultima e inacessivel. Tudo é gênese e clímax. Entre eles, solidão.

Luciano Cilindro de Souza.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Para que maos? 


Eu queria ter maos onipotentes que, a um comando, me envolvessem em bolhas flutuantes e indestrutiveis de sabao. Ser uma divindade brincalhona sabedora de mil mitos, para fazer a catarse de mil agonias. Elas estao todas aqui, no coracao, me dando expiracoes de doces gases carbonicos. Por mais que negue, eu quero um diabo que me carregue pra um peito arfante quando eu chegue, vindo de bracos abertos, me abrigando num abraco reflexo, capaz de estourar a bolha. Ah, eu quero encontrar esse fantasma com formas de homem, que meu terapeuta diz ser eu mesmo, mas acho que nao. Ele deve estar por ai em algum lugar...

terça-feira, 30 de abril de 2013

Precisa-se de sabios


Em meio a tempestade alguem segurara na tua mao
Ou no teu cabelo, com grossas lagrimas
Sem saber que as tuas jazem escondidas no coracao.
Ficaras surpreso por ver quem visita as tabuas
De teu porto solitario, que nunca aprouve salvacao.

Esse alguem segurara teus bracos
Sem piscar te olhara nos olhos.
Nascerao sinceros, constrangedores lacos
Nada mais te parecera simplorio.

Sentiras vergonha de nao poder
Usar o cajado de sabio e o manto
Do heroi que o outro pensa ver!
Jamais negue ao suplice esperanca ou acalanto.

Se ele te chamar "amigo"
Num mundo novo te veras perdido
Num constranger que se faz sorriso
Teus labios calarao, teu coracao ungido.

Veras que nao sabes remediar
A dor suprema do semelhante
Mas algo humilde impele a dar
Tua inocua opiniao de errante.

Tu nao entenderas por qual louca razao
Procurastes sabios em teus poroes e atalho
Agora, que nao contas com conselho, nem opiniao
Outro enxerga-te mago e nao louco espantalho.

Talvez possas ajudar, se vier palavra certa, sem demora!
Nunca dispense o bau do egoismo abrir
Para remexer tuas sobras, tua mediocre esmola.
O que te parecia tralha, pro outro eh soberbo elixir!


De: Luciano Cilindro de Souzae 

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Acho que eu nem vou querer sopa

Vem ca, vem nesse atalho
Minha casa eh logo ali, a sopa esfria
Me ajuda a ensinar meu cachorro
A me ajudar a fazer as malas?
Em breve terei de viajar, de novo.
Partir, recomecar outra luta ingloria
Protestar contra o exterminio
De minhas chances no futuro.

Vem, vem ca, me de a sua mao
Ninguem quer me ajudar a criar vaidades
voce ajuda? Heim? Vamos,
So um segredinho entre nos,
So um segundinho. Vou avisando:
Tenho varias armadilhas, caia em todas elas
Afinal, nao sei com que proposito
Eu fiz tantas! O que? O que disse?
Voce me acha estranho? Me acha triste?
Ora, nao ligue, Deus fez uns de ternura
Deus fez outros de amargura
Eu sou algo entre os dois!

Olha, nao se acanhe, mas nao se arrisque
A me deixar alegre ou triste, nao toque em nada
Senao em mim. O que? Nao posso te beijar,
Te acariciar? Mas beijos e caricias
Nao sao bons em si? Mesmo que eu seja mau?
Voce eh tao simpatico e generoso, tao franco!

Quer tomar a sopa? Nao, nao foi envenenada
Embora eu nao saiba se esta boa. Mas fumega.
Tudo que fumega se assemelha a mim:
Ou vem de uma sopa ou de restos de incendios.

Esta calor, nao eh?
Veja como eu estou suando, gotas de suor e lagrimas.
Voce, por acaso, tem um leque? Um lenco?
Eh que as paredes daqui sao feitas de livros,
Alfarrabios poeirentos e empilhados, que me causam
Suores, as vezes, pois alguns sao bem velhos
E feitos de pele, espessos e perturbadores.
Eles me fazem companhia todo o tempo.
Sao conselheiros. Dizem que nao tem importancia
Nao ter amigos. Pois amigos, quando chegarem,
Sempre me responderao uma pergunta.
Mas deixarao duas quando forem embora!

Quanto tempo voce acha que leva
Para fazer meus cachorros
Arrumarem minhas malas?

Voce sente pena de mim?
Entende o quanto eu tenho a perder?
O quanto terei de deixar aqui?
Nao? Nao sente? O que sente?
O mesmo que sentiria se eu estivesse em seu lugar?
Que resposta tola! De vazios bastam,
Os meus potes de vinho. Eles secaram
Secaram de tanto esperar que eu os bebesse...
Mas voce chegou tarde, ou sera que...
Sera que eu tardei em ter coragem de
Convidar-lhe para tomar essa sopa?

Nao, nao, nao va embora!
Eu te dei muitos motivos para voce partir
Porque voce tinha tantos para ficar!
Voce ja vai longe, deixou a sopa intacta.
Acho que nem vou querer a sopa tambem...
Vou ficar aqui, abracado as minhas pernas.

Quem sabe meu cachorro aprenda a fazer a mala
Sem ser ensinado, e coloque alguns casacos la, dentro dela.
Assim eu tomo coragem e viajo, de novo...

Eu vou para qualquer lugar
Desde que possa construir outra casa
Com alfarrabios e muitos livrinhos interessantes.
Alguns eu mesmo terei escrito!

Como seria bom se aquele estranho voltasse!
Que estranha decisao tomou, mais que as minhas todas.
A estrada onde o achei se alonga solitaria
Fria e nevoenta.

Por que ele decidiu
Nao se importar em me mostrar
Que antes so que em ma companhia?
Aposto que, quando ele virar uma curva brusca
E cair no abismo, vera que o caminho
Era tao longo a se percorrer
Que eu teria me tornado bom  e agradavel
Bem antes de chegarmos aos nossos destinos.

Luciano Cilindro de Souza




sexta-feira, 19 de abril de 2013

Meu filho predileto

Meu filho predileto.


Tenho varios filhos e os amo a todos. Tres cachorros, varios romances escritos, alguns quadros pintados e, como todo solitario, sou filho de mim mesmo. Somente eu sei a cota de sacrificio que foi gerar, criar e investir tanto neles. Sao a razao de meu viver e de meu sofrer. Neste vasto mundo que existe dentro de minha caixa craniana, eles sao parte integrante das minhas fantasias de perfeicao. Mas ha um componente sinistro e amargo de se ter filhos, principalmente filhos eternos: ha aquela necessidade de expo-los para os vizinhos e de provocar neles a mesma admiracao, exatamente a mesma, de preferencia uma ainda maior. Queremos que eles causem uma especie de fermentacao na  massa dos acontecimentos para que se tornem cada vez mais unicos e singulares. Mas, logo no bercario, o criador ja percebe que seu bebe nao eh tao diferente dos outros, compartilha caracteristicas que o tornam bem pouco original, e so sendo muito idealista, ou petulante, para achar que sua prole detem alguma originalidade incontestavel. Leva algum tempo para o criador perceber que seus filhos  nao se destacarao por trazer em si uma especie de virtude extraordinaria que os torne superior, isso pode ate acontecer, mas eh obra do acaso. Leva algum tempo para o autor perceber que sua obra nada tem de original quando se trata de caracteristicas essenciais, pois tudo ja foi dito, tudo ja foi pintado, tudo ja foi tentado e repetido a exaustao. O autor chega a uma fase que percebe sua obra de forma diferente, tal qual eh de verdade. Eh uma fase dificil, requer muita resignacao e humildade. Precisara decidir se a permanecera como eh, contentando-se com pequeninas e sutis diferencas que so sao essenciais e importantes para ele e sua obra, ou se vai submeter sua potencialidade a desafios muito trabalhosos para ver trofeus de orgulho e medalhas penduradas  em fanfarras de altas patentes. Chega uma hora em que o pai decidira se vai educar o filho para a serenidade do lugar-comum, ou se vai disputa-lo em competicoes mais gloriosas e arriscadas da vida a ver no que da. Chega uma hora triste, e as vezes longa, em que o autor deve decidir se vai expor a sua obra ou simplesmente deixa-la la, nos poroes da casa, nas gavetas do anonimato, onde permanecera intocada, mas a melhor de todas em seu mundo imaginario.

De: Luciano Cilindro de Souza


LUCIANO CILINDRO DE SOUZA

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Luciano Cilindro de Souza
Cachoeira, Bahia, Brazil
Um partidão! Se quer saber, sou do tipo... Sou do tipo que não serve pra ninguém. Anonimato não define o que já alcancei. Ser o que não sou é etapa vencida ... Meu rótulo tem poucas palavras. # Buracos no meu queijo restam do vazio Muito pouco fatiado, pouco degustado. Cuidados, não vou além de não deixar-me estragar, Já é bem penoso viver e conservar. # Na fábrica comum dos seres comuns, Fui destinado ao mercado dos esquecidos. Quem não se esforça por lembrar dos preteridos, Não me verá naquela prateleira dos temperos banais. # Embora tenha gosto, cheiro, textura, Convenço-me de que devo usufruir-me - Como própio pão e como próprio queijo, não espero alheias mordidas! Propaganda é para os desesperados ou esperançosos. # Meus ingredientes clamam por combinação Não mais de todo tipo. Só por alguém que, no prato que come, Deseja variar o que já tenha vivido. # ASS: luciano cilindro
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